Decidi me lançar ao fundo aquele fim de tarde. Fim de tarde nublado e frio. O desgosto do calor não mais fazia parte de meu suor. O sabor do sol poente estava branco e ofuscado pelas nuvens preocupadas do meu pensamento. - As pessoas não devem se preocupar - eu pensei convicto, mesmo sabendo da necessidade e da imortalidade da preocupação. Me preocupo e ponto, apesar de me preocupar pouco.
As leituras do mundo me fizeram então seguir para uma distante razão, uma lua, que no fundo mais escuro da galáxia espirrava o reflexo fraco do sol. Fui perdendo palavras no caminho, o que foi uma pena. Perder palavras tira toda a sua base em qualquer discussão. Se eu entrasse em uma dicussão com alguém, certamente iria perder, como perco muitas vezes por pensar apenas em mim e em meu prazer. Depois de alguns minutos eu já estava acompanhado, pairando desgostoso pelo universo. Lotado de entorpecentes alternativos, radioativos, tóxicos, peçonhentos e ultra-românticos, pude compreender aquele confuso momento, eco da lembrança. As palavras foram reaparecendo e da base que se reestabeleceu vi erguer um imenso arranha-céu de desilusões formadas para me chatear. E chatearam.
Me perdi por umas horas, realmente não sabia onde estava. As vias estavam congestionadas... Muitas loucuras numa leva de ondas e visões e palavras e opiniões, impregnadas em meus ouvidos machucados. Eu nada queria ouvir a não ser o eco do inalante, a mistura de todas as línguas em movimento, o trem passando sem se quer existir trilhos, o alarme que vem lá da Escandinávia, a voz da minha memória fraca... Então foi o que ouvi, ouvi a fuga útil, fútil.
Mais algumas horas se passaram. Toda a irrealidade já havia acabado. Abri meus olhos e o relógio completava meia volta. Já era de manhã. O hálito matinal me incomodava. Estava tudo super sem cor. Não havia mais barulhos, risadas...nada. Alguém fumava um cigarro, mas não pude ver quem era, talvez Slip, talvez não. Fui sentindo um peso terrível, como se o planeta Terra estivesse em meus ombros. Eu estive no ar aquela noite, mas toneladas me fizeram desabar. E eu fui caindo... Além, num profundo buraco de incerteza e preocupação... Infernal, diabólica.
terça-feira, 22 de abril de 2008
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