terça-feira, 29 de abril de 2008

IV

Agora pouco tive medo. Medo de fazer o que fiz. As curvas me levaram a um precipício de tormento. Tudo estava tão confuso quanto as guitarras de milk it. Cadeados me trancaram no sonho da esperança. Um sonho em vão. Fraco e desfalecido, meu corpo entrou em chamas de derrota, perda, e uma desconfortante sensação de que nada valeu a pena... Mesmo que eu quisesse mudar isso.
Suas palavras inestimáveis me deixaram cada vez pior. Não vou entender nunca o que realmente aconteceu. Um turbilhão de verdades. Uma cura temporário que me manteve acordado, mas de efeito efêmero. Foi uma droga vencida. Um raio de segredos mudos em seus ouvidos medrosos e sínicos, intrigantes até demais... Que agora faz parte do meu passado.

III

Ela se foi em uma verdade só. Achou realmente que tudo aquilo que pensou e pensa está correto e eu, de alguma forma, devo perceber. O meu limíte, se já não chegou, está próximo.
Então, ela pediu licença e saiu, para nunca mais aquela noite. Ela é meu inferno quando não mais tenho forças para acompanhar seu pensamento.
Eu era um raio só, rachado numa tempestade de neve. E ela, querendo neve, teve o frio. Frio de minha espinha, frio de meus ossos... Da sensação de tê-la diminuindo em minha vista.
Destruição em massa daquilo que, porra, tão logo se iniciou, começou a explodir.
Perde-me por desculpas idiotas e nada me convence o contrário. Parte logo de uma vez! Vai Tarde! Tudo acabado entre nós!
Aqueles olhos me fazem tão bem, mas por apenas alguns minutos... Aqueles de minutos ao seu lado... Ela parece nem querer saber de mim. E NÃO, eu não entendo mesmo o que ela diz que não entendo. Vai doer... ô se vai... Mas me manterei de pé. Quem sabe eu mereça um diamante menos bruto. Na verdade, eu mereço risadas e palavras bobas, carinhos e preocupações com o que vai ser bom.
Eu fui embora aquela noite e nela repousei um último e fraco beijo. Foi triste. E será um cold turkey muito pior... Mas me manterei de pé.


"Cold turkey has got me on the run" - Lennon

sexta-feira, 25 de abril de 2008

II

Senti-me fraco. Sua otária então rolava audição adentro e a calma foi ficando fria. Tentei me acostumar com a sensação de estar triste...em vão. Eu não poderia ficar mais um minuto ali, naquele noturno lugar. Notícias ruins chegaram... Ela havia beijado uma boca inferior.Não pude aguentar a sensação de perda. De que vale tanto amor se não me queres mais - pensei naquele instante, escondendo lágrimas dela, que me observava de canto. Beijei Paulo em sua bochcecha direita e parti sem olhar pra trás. Mania certamente ficou preocupado, mas atendeu o meu pedido e não veio atrás de mim. Andei a Pres. Carlos Cavalcanti algumas quadras, no sentido contra os carros, que subiam em alta velocidade. O vento cortava minha face, congelando meu nariz. Sentei na calçada e fumei um cigarro atrás do outro... Mas eu realmente precisava de alguém pra conversar. Liguei para Paulo e logo ele apareceu com Ranghetti. Nós três fomos até o Largo procurar algo pra comer. Simplismente desabei palavras e lágrimas em cima dos meus caros irmãos. Falei de como eu me sentia auto-destrutivo e incapaz, que eu a tinha perdido para sempre. Chorar faz bem - dizia Ranghetti. Olhando o céu, minha única vontade era falar tudo, infinitamente tudo para ela. E foi o que fui fazer.
Logo a encontramos no caminho, estava com as amigas e então logo ficamos face to face. Desmoronei a verdade em cima daquele que é o olhar mais misterioso, a boca mais procurada, a ladra mais profunda de razão. Posso te dar um abraço? - ela perguntou. Então, aquela que nunca nada falava, começou a fazer cairem meteoros de verdades. Fui minguando, até quase sumir por completo. Pude ver que todos estavam errados. Eu estava completamente errado.

terça-feira, 22 de abril de 2008

I

Decidi me lançar ao fundo aquele fim de tarde. Fim de tarde nublado e frio. O desgosto do calor não mais fazia parte de meu suor. O sabor do sol poente estava branco e ofuscado pelas nuvens preocupadas do meu pensamento. - As pessoas não devem se preocupar - eu pensei convicto, mesmo sabendo da necessidade e da imortalidade da preocupação. Me preocupo e ponto, apesar de me preocupar pouco.
As leituras do mundo me fizeram então seguir para uma distante razão, uma lua, que no fundo mais escuro da galáxia espirrava o reflexo fraco do sol. Fui perdendo palavras no caminho, o que foi uma pena. Perder palavras tira toda a sua base em qualquer discussão. Se eu entrasse em uma dicussão com alguém, certamente iria perder, como perco muitas vezes por pensar apenas em mim e em meu prazer. Depois de alguns minutos eu já estava acompanhado, pairando desgostoso pelo universo. Lotado de entorpecentes alternativos, radioativos, tóxicos, peçonhentos e ultra-românticos, pude compreender aquele confuso momento, eco da lembrança. As palavras foram reaparecendo e da base que se reestabeleceu vi erguer um imenso arranha-céu de desilusões formadas para me chatear. E chatearam.
Me perdi por umas horas, realmente não sabia onde estava. As vias estavam congestionadas... Muitas loucuras numa leva de ondas e visões e palavras e opiniões, impregnadas em meus ouvidos machucados. Eu nada queria ouvir a não ser o eco do inalante, a mistura de todas as línguas em movimento, o trem passando sem se quer existir trilhos, o alarme que vem lá da Escandinávia, a voz da minha memória fraca... Então foi o que ouvi, ouvi a fuga útil, fútil.
Mais algumas horas se passaram. Toda a irrealidade já havia acabado. Abri meus olhos e o relógio completava meia volta. Já era de manhã. O hálito matinal me incomodava. Estava tudo super sem cor. Não havia mais barulhos, risadas...nada. Alguém fumava um cigarro, mas não pude ver quem era, talvez Slip, talvez não. Fui sentindo um peso terrível, como se o planeta Terra estivesse em meus ombros. Eu estive no ar aquela noite, mas toneladas me fizeram desabar. E eu fui caindo... Além, num profundo buraco de incerteza e preocupação... Infernal, diabólica.